Lição de humildade de São Gregório Magno, segundo Papa
Propõe a todos o modelo de seu predecessor na sede petrina

«Intimamente impressionado pela humildade de Deus, que em Cristo se fez nosso servo», São Gregório Magno – Papa do ano 590 a 604 – fez desta virtude sua própria vida e a mostrou como chave no itinerário cristão, especialmente na vocação episcopal e na leitura das Escrituras, recorda Bento XVI.

Na audiência geral desta quarta-feira, o Santo Padre continuou com sua catequese sobre este Padre e Doutor da Igreja que havia vivido profundamente sua vocação monacal, mas que, chamado à sede petrina, «por amor a Deus soube fazer-se servidor de todos em um tempo cheio de tribulações e sofrimentos».

«Soube fazer-se ‘servo dos servos’ – afirmou Bento XVI. Precisamente porque o foi, é grande e mostra também a nós a medida de sua verdadeira grandeza.»

Riquíssimo em obras e escritos, São Gregório contudo jamais quis traçar uma doutrina original; «quis simplesmente ser a boca de Cristo e de sua Igreja no caminho que se deve percorrer para chegar a Deus», apontou.

«Humildade» era uma palavra que o Papa Gregório invocava, por exemplo, para aproximar-se da Bíblia, da qual foi «apaixonado leitor», descreveu Bento XVI.

«Da Sagrada Escritura, pensava ele, o cristão deve tirar não tanto um conhecimento teórico, mas o alimento cotidiano para sua alma, para sua vida de homem neste mundo» – acrescentou –, de maneira que insiste em que «aproximar-se da Escritura simplesmente para satisfazer o próprio desejo de conhecimento significa ceder à tentação do orgulho».

«A humildade intelectual é a regra primária para quem tenta penetrar nas realidades sobrenaturais partindo do Livro Sagrado», sublinhou Bento XVI; só com a atitude interior de humildade «se escuta realmente e se percebe por fim a voz de Deus».

Mas «quando se trata da Palavra de Deus, compreender não é nada» «se não conduz à ação», aprofundou o Papa, seguindo São Gregório, cujo «ideal moral» consiste na «harmoniosa integração entre palavra e ação, pensamento e compromisso, oração e dedicação aos deveres entre palavra e ação, pensamento e compromisso, oração e dedicação aos deveres do próprio estado» como caminho para Deus.

«Humildade» foi também a chave que levou esse grande Padre da Igreja a «traçar a figura do bispo ideal, mestre e guia de seu rebanho» – assinalou o Santo Padre: como «pregador» por excelência, o bispo «deve ser, sobretudo, exemplo» para os demais.

«Uma ação pastoral eficaz requer também que ele conheça os destinatários e adapte suas intervenções à situação de cada um», continuou.
De fato, São Gregório Magno assim o fez, e insistiu «no dever de que o pastor» reconheça «cada dia a própria miséria, de maneira que o orgulho não torne vão, aos olhos do Juiz Supremo, o bem realizado».

São Gregório Magno cultivou as relações com os patriarcas de Antioquia, de Alexandria e de Constantinopla, preocupando-se sempre «por reconhecer e respeitar os direitos, guardando-se de toda interferência que limitasse a legítima autonomia deles», especificou Bento XVI.
No contexto da situação histórica, São Gregório «se opôs ao título de ‘ecumênico’ por parte do Patriarca de Constantinopla»; mas «não o fez por limitar ou negar esta legítima autoridade, mas porque estava preocupado pela unidade fraterna da Igreja universal».

Mais uma vez, «ele o fez sobretudo por sua profunda convicção de que a humildade devia ser a virtude fundamental de todo bispo, mais ainda de um patriarca», e porque continuava sendo monge em seu coração e, portanto, «contrário aos grandes títulos».

O que escolheu para si foi «servo dos servos de Deus», usado desde então por seus sucessores. Muito além de uma fórmula, expressa verdadeiramente «seu modo de viver e de atuar», concluiu Bento XVI.

Por Marta Lago

Fonte: Zenit. CIDADE DO VATICANO. 4 de junho de 2008. ZP080604.
.www.zenit.org

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