Jesus atua na liturgia da Palavra na missa, explica Pe. Cantalamessa
Sublinha o pregador apostólico ante o Papa e a Cúria
«Existe um âmbito e um momento na vida da Igreja em que Jesus fala hoje da forma mais solene e mais segura, e é a liturgia da palavra na Missa», constatou nesta sexta-feira, ante Bento XVI, o pregador da Casa Pontifícia.
«A Palavra de Deus é viva e eficaz», expressão paulina (Hebreus 4, 12) que percorre as pregações desta Quaresma a cargo do Pe. Raniero Cantalamessa O.F.M. Cap. na capela «Redemptoris Mater» do palácio apostólico do Vaticano.
O tema orienta não só este itinerário de reflexão para preparar para a Páscoa, mas também o caminho para o Sínodo dos Bispos, a grande convocatória do próximo mês de outubro sobre «A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja».
O ponto de partida proposto nesta sexta-feira pelo pregador do Papa, «A Palavra de Deus na vida de Cristo», concretiza-se no próprio Jesus «que prega».
Ele é a «Palavra» de Deus, a Boa Nova da vinda do Reino de Deus entre os homens, ou seja, Jesus é o próprio «sujeito» da pregação. «Às realizações provisórias da palavra de Deus nos profetas, sucede agora a realização plena e definitiva», afirmou.
«A Carta aos Hebreus expressa assim a novidade: ‘Muitas vezes e de muitos modos Deus falou no passado a nossos pais por meio dos Profetas; nestes últimos tempos, ele nos falou por meio do Filho’.»
Por isso, as «palavras-evento» – a palavra de Deus que, sobretudo nos profetas, «cria uma situação que leva a cabo sempre algo novo na história» – deram passagem às «palavras-sacramento».
Estas últimas «são as palavras de Deus ‘sucedidas’ de uma vez para sempre e recolhidas na Bíblia, que voltam a ser «realidade ativa» cada vez que a Igreja as proclama com autoridade e o Espírito que as inspirou volta a acendê-las no coração de quem as escuta», definiu o Pe. Cantalamessa.
Em Jesus, a Palavra de Deus «se fez carne» (Jo 1, 14). «O evento agora é uma pessoa!», afirmou.
Por meio de seu Filho, Deus fala «também hoje na Igreja». Para tomar consciência disso, o pregador da Casa Pontifícia apontou a afinidade entre Palavra e Eucaristia.
«O sacrifício de Cristo está consumado e concluído na cruz, em certo sentido; portanto, já não há mais sacrifícios de Cristo; contudo, sabemos que existe ainda um sacrifício e é o único sacrifício da Cruz que se faz presente e operante no sacrifício eucarístico; o evento continua no sacramento, na história na liturgia. Algo análogo sucede com a palavra de Cristo: deixou de existir como evento, mas existe ainda como sacramento», advertiu.
A «A sacramentalidade da palavra de Deus se revela no fato de que, às vezes, aquela atua manifestamente além da compreensão da pessoa, que pode ser limitada e imperfeita; obra quase por si mesma, ex opere operato, como se diz em teologia» «há uma desproporção evidente entre o sinal e a realidade que produz, algo que permite pensar precisamente na eficácia dos sacramentos».
Exemplificou com Santo Agostinho: «Ao ler as palavras de Paulo aos Romanos (13, 11 ss.), ‘Despojemo-nos das obras das trevas… Como em pleno dia, procedamos com decoro: nada de orgias ou bebedeiras’, sentiu uma ‘luz de serenidade’ que assaltava seu coração e compreendeu que estava curado da escravidão da carne».
Na Missa, a «liturgia da Palavra» é «a atualização litúrgica do Jesus que prega», sintetizou, é o momento no qual «as palavras e os episódios da Bíblia não só se narram, mas se revivem; a memória se converte em realidade e presença. O que aconteceu «naquele tempo», ocorre «neste tempo», «hoje» (hodie)».
Por isso, seguindo ao pregador do Papa, «Escutadas na liturgia, as leituras bíblicas adquirem um sentido novo e mais forte que quando se lêem em outros contextos. Não têm tanto o objetivo de conhecer melhor a Bíblia, como quando esta se lê em casa ou em uma escola bíblica, quanto o de reconhecer quem se faz presente ao partir o pão, iluminar cada vez um aspecto particular do mistério que se vai receber».
Assim aconteceu com os dois discípulos de Emaús – evocou. «Foi escutando a explicação das Escrituras que seu coração começou a arder, de maneira que foram capazes de reconhecer Jesus depois ao partir o pão».
Por isso «Não somos só ouvintes da palavra, mas interlocutores e atores nela» realmente, insistiu o pregador do Papa. E recordou os conselhos de Orígenes, quanto ao sumo cuidado e veneração que se tem para com a Eucaristia, o corpo do Senhor: «Sabei – dizia o padre apostólico dos primeiros tempos da Igreja – que descuidar da palavra de Deus não é culpa menor que descuidar de seu corpo».
Por Marta Lago
Fonte: Zenit. Cidade do Vaticano. 22/02/2008, ZP080222. www.zenit.org
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