Movimentos: «Dom Providencial»; convite aos bispos do mundo
Lembrança do cardeal Rylko, presidente do Pontifício Conselho para os Leigos
Por Marta Lago
O presidente do Pontifício Conselho para os Leigos chama os bispos do mundo a contemplar os movimentos eclesiais e novas comunidades não como um «problema», mas como «um dom providencial» que a Igreja deve receber com gratidão e responsabilidade.
Assim o cardeal Stanislaw Rylko abriu o Seminário de Estudo – na localidade romana de Rocca di Papa – no qual, convocados pelo dicastério (ver http://www.zenit.org/article-18416?l=portuguese), aproximadamente 100 bispos de mais de cinqüenta países dos cinco continentes aprofundam sobre o significado teológico-eclesial e pastoral do fenômeno dos movimentos eclesiais, assim como em seu dever de pastores ante os mesmos.
A chave destas jornadas é a invocação comunitária ao Espírito Santo para «conhecer e compreender melhor o projeto de Deus nestes novos carismas, discernir corretamente o caráter genuíno e o uso ordenado no seio das comunidades cristãs, acolhê-los com confiança e gratidão no tecido das Igrejas encomendadas a nossa atenção pastoral» e fazer o acompanhamento «em sua missão com autêntico sentido de paternidade espiritual», explica o cardeal Rylko.
A exortação de Bento XVI (em 2006, a um grupo de bispos), «peço-vos que saiais ao encontro dos movimentos com muito amor», é a direção do Seminário, apoiado no magistério dos últimos dois pontífices sobre as novas realidades eclesiais – que sempre contemplaram com confiança –, «um dos frutos mais significativos do Concílio Vaticano II», aponta o cardeal.
Ocorre que, «uma vez mais – acrescenta –, o Espírito Santo interveio na história, dando à Igreja carismas portadores de um extraordinário dinamismo missionário e respondendo tão oportunamente aos dramáticos desafios de nossa época», entre os que sublinhava o Papa Karol Wojtyla, o domínio «de uma cultura secularizada que fomenta e reclama modelos de vida sem Deus».
«É inegável» – continua o cardeal Rylko – que «movimentos e novas comunidades tenham se convertido para milhões de batizados, em todo canto do planeta, em verdadeiros ‘laboratórios da fé’, autênticas escolas de santidade e de missão»; contudo, «representam um recurso que ainda não é conhecido ou não se valoriza plenamente».
«Os movimentos lançam o desafio de uma Igreja missionária, corajosamente projetada a novas fronteiras», «e em nossos dias a Igreja tem grande necessidade de se abrir a esta novidade gerada pelo Espírito Santo»; «destas ‘coisas novas’ deveriam ser os pastores os primeiros a aperceberem-se», «mas sabemos que nem sempre é assim», lamenta o cardeal Rylko.
E exorta: «Os pastores – e isto tem que ser fortemente sublinhado – não devem contemplar os movimentos e novas comunidades como um ‘problema’ a mais dos que se tem que ocupar, mas como um ‘dom providencial’ que a Igreja deve receber com gratidão e sentido de responsabilidade, para não desperdiçar o recurso que representam».
Pontos de discernimento
Tal dom comporta deveres para os leigos e para os bispos, sublinha o cardeal Stanislaw Rylko em sua intervenção introdutória; de fato, o próprio João Paulo II «insistia muito no fato de que estas novas realidades são chamadas a inserir-se nas dioceses e nas paróquias ‘com humildade’», «a serviço da missão da Igreja e evitando todo tipo de exclusivismo e de absolutização de suas próprias experiências» ou «atitudes de superioridade umas em relação a outras».
Mas o falecido pontífice «também pedia aos Pastores – bispos e párocos – que as acolhessem ‘com cordialidade’ e com paterna solicitude».
O dever de discernimento destes carismas compete aos pastores da Igreja, e para isso contribuem «cinco ‘critérios de eclesialidade’» que João Paulo II formulou e que o cardeal recorda aos bispos: «Que se dê primazia, no seio de qualquer agregação de fiéis leigos, à vocação à santidade; a obediência ao magistério da Igreja; o testemunho de uma comunhão sólida e convencida com os bispos e com o Sucessor de Pedro; a evangelização; a presença incisiva na sociedade como fermento evangélico».
Ainda assim, como recorda o cardeal, o Papa Wojtyla, no que diz respeito à identidade eclesial dos movimentos, sublinha que «na Igreja não existe contraste e contraposição entre a dimensão institucional e a dimensão carismática, da qual os movimentos são uma expressão significativa».
Ambas «são co-essenciais à constituição divina da Igreja fundada por Jesus Cristo – acrescentava –, porque concorrem a fazer presente o mistério de Cristo e sua obra salvífica no mundo».
Estando à frente da Congregação vaticana para a Doutrina da Fé, o cardeal Joseph Ratzinger também ofereceu pontos para o discernimento e a inserção destas novas realidades no tecido das Igrejas particulares: «A integração – dizia – jamais pode significar homologação porque a comunidade eclesial não é uniformidade absoluta, mas unidade na diversidade».
«Como pontífice [Joseph Ratzinger] continua insistindo na importância do critério da docilidade à ação do Espírito no seio da comunhão eclesial», assinala; também constata o Papa nos movimentos sua força em testemunhar a beleza de ser cristãos.
Sobre a relação «Igreja/movimentos», o atual pontífice expressou a prioridade da regra paulina: «não apagueis os carismas», e como segunda regra: «a Igreja é una», e sintetiza ambas as diretrizes nas palavras «gratidão, paciência e aceitação também dos sofrimentos que são inevitáveis», cita o cardeal Rylko.
E ainda insiste: «O Papa Bento XVI pede aos bispos abertamente ‘sair ao encontro dos movimentos com muito amor’. Aqui e ali [estes] devem ser corrigidos, introduzidos no conjunto da paróquia ou da diocese. Mas devemos respeitar o caráter específico de seus carismas e estar alegres de que nasçam formas comunitárias de fé onde a Palavra de Deus se faz vida».
Bento XVI receberá os participantes do Seminário no próximo sábado.
Fonte: Zenit. ROCCA DI PAPA. 15 de maio de 2008. .www.zenit.org
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